domingo, 23 de novembro de 2008

Início de uma geração de ouro ou o fim de uma era?

Aproximam-se tempos de preparação para a comemoração de uma época muito especial na vida da Igreja e da sociedade em geral. Ainda que nem todos aqueles que (con)vivam connosco sejam Cristãos e vivam o Natal com a alegria de comemorar o aniversário da primeira vinda de Jesus até nós, não deixa de ser para todos um tempo de maior sensibilidade, de afecto, de (re)encontro com as famílias e amigos. Um tempo em que todos apelam um pouco mais à solidariedade para com os mais desfavorecidos, ainda porque coincide sempre com um tempo mais desconfortável e mais duro para quem não pode disfrutar do conforto de uma casa e de uma refeição quente.
É também tempo de renovação. No calendário cívil, quando se festeja a passagem de ano, formulam-se muitos desejos para o novo ano que se aproxima e a esperança de um ano abençoado torna-se um sentimento generalizado.
Também nós Cristãos podemos aproveitar esta caminhada de Advento para nos comprometermos com a nossa comunidade. Sendo que o início do Advento é também o início de um novo ano pastoral, de um novo ano litúrgico. Não fosse mais nada, já seria motivo para aproveitarmos para, e não esquecendo as coisas boas do passado, tentar escrever um mais próspero futuro nesta renovada oportunidade que nos é dada.
Há uma semana, Jesus abordou-nos, uma vez mais, com a parábola dos talentos.
Alegro-me em Cristo por conhecer pessoas que não se escondendo por detrás da vergonha nem do comodismo dão tanto de si, muitas vezes com tão poucos meios, e são o último reduto de uma comunidade e de uma assembleia que sem eles não poderia viver uma celebração com a mesma dignidade.
Tantas vezes nos deixamos dormir... dizemo-nos cansados e não olhamos para a valentia e a dedicação de outros que com nada disto se desculpam e com um sorriso sincero e voluntário entregam o seu enorme talento à Igreja. A eles o meu enorme agradecimento e inspiração.
Conhecemos também pessoas que, com muito menos talento do que julgam ter, só consideram válido emprestar um pouco de si às horas e onde mais lhes convém. Mal anda uma comunidade que tem irmãos que se servem dela em vez de a servir. Mal de nós quando Deus assim dispuser de nós e apenas nos acudir quando lhe convier.
Há comunidades que vivem no limite das suas possibilidades e é tal a sede por uma lufada de ar fresco que toda a motivação e proactividade que aparecessem seriam uma benção de Deus. Outras vivem na sombra de pessoas que no limite das suas capacidades tentam segurar pontas cada vez mais soltas e distantes.
Ao ver partir uma geração de eleitos que, acompanhados pela comunidade, são agora a esperança da Igreja, pergunto-me: como chegámos ao ponto de não haver como "abrigar" estes jovens que foram enviados por Cristo, na pessoa do seu bispo, a todo o mundo para proclamar a boa nova e dar testemunho da sua fé?
Eis que é chamada uma "equipa" a quem é dada uma oportunidade de provar que algo está mal, que é possível fazer melhor.
Eu chamar-lhes-ia, como Eça de Queirós n' "os Maias": os vencidos da vida. Pois não se trata de continuar algo mas sim de reescrever uma história. E foram "chamados" aqueles que já tinham perdido a esperança que isso fosse possível.
Julgo que estamos perante uma pergunta a que só o tempo será capaz de dar resposta: será o início de uma geração de ouro ou o fim de uma era?
Tempos houve em que as nossas catequeses alimentavam os vários sectores da comunidade. Uns cantavam, outros liam, alguns mais corajosos perdiam a vergonham e vestiam uma túnica para o importantíssimo serviço do altar, alguns ainda mais valentes e destemidos aceitavam a responsabilidade de guiar os caminhos de outros que lhes sucederão um dia, ou que pelo menos se juntarão a eles, aceitando o chamamento de Cristo para serem catequistas.
Hoje conheço alguns que dizem que, recebendo a Confirmação, não voltam a "meter lá os pés" porque "aquilo não lhes diz nada". Arrisco a dizer por outros que nem crentes são. Mas isto não seria um mal tão grande se fosse produto de uma fase do caminho em que a provação é grande e em que devem ser postos à prova os limites da nossa fé. Mas sei por muitos que não é de hoje nem de ontem esse sentimento.
E entao questiono-me porque não se reflecte sobre o que estamos a fazer com os nossos jovens. Sobre para onde os estamos a deixar caminhar e pior ainda a quem estamos levianamente a dar a Confirmação de que são verdadeiros Cristãos e fiéis servidores de Jesus Cristo!
Provavelmente somos nós os grandes culpados quando não entendemos porque acham a Eucaristia "uma seca" ou porque dizem que a catequese não lhes traz nada de novo.
Será que a Eucaristia é "uma seca" porque os cânticos não são acompanhados à guitarra e não dão para bater palmas? Será que a catequese é uma seca porque não é dada por gente mais nova e com actividades "mais fixes" e que envolvam saídas?
Penso que não! Acredito que não, porque é o que tem sido feito e afinal onde estão eles?
Será que vale mesmo a pena não se ouvir uma das leituras da palavra de Deus na Eucaristia e substituí-la pela palavra dos homens em orações/meditações apelando ao sentimentalismo e a lamechices que fazem de nós Cristãos, não um povo alegre e feliz mas, uma cambada de coitadinhos? Terá o servo mais TALENTO que o seu Senhor?
Não é nem pelos cânticos, nem pelos acólitos, nem pelos padres que vamos à Igreja, mas porque Deus nos chama! Porque temos sede, sede de Deus que a todos sacia com o seu amor, com a sua palavra e com o seu próprio corpo entregue por nós, consagrado pão que nos é dado em cada eucaristia em que participamos.
Acredito que é tempo de levantar os estandartes, de limpar as armas e selar os melhores cavalos. É tempo de dar luta à erosão que o tempo provoca na nossa comunidade e de travar uma escalada de deserção e de falta de (pro)actividade e formação nos nossos grupos. A maior arma é o amor e a melhor defesa é o peito aberto, porque se o Senhor verteu todo o seu sangue por nós... que não tenha feito em vão. Jorremos nós fé e disponibilidade e sejamos exemplo de que Deus não nos quer tristes, cansados e abatidos, mas alegres, felizes e fortes para ajudar a levantar aqueles que sem Ele são oprimidos pelas dificuldades de uma vida sem fé e sem esperança.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Somos todos filhos do mesmo Deus?

«Bendito seja Deus que, do alto dos céus, nos abençoou com toda a espécie de bençãos espirituais em Cristo.'Ele nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados diante dos Seus olhos... Porque somos filhos de Deus, Ele enviou aos nossos corações o Espírito de Seu filho, que em nós clama: Abbá, Pai!»
Penso que constantemente nos esquecemos de que esta é uma das maiores verdades da existência humana e da descoberta de Deus e da santidade. Mais do que Sua criação, mais do que simples obra, trabalhada e moldada, somos seus filhos! Isso dá-nos o direito de aspirar à santidade, mas não nos confere esse direito como herança!
Neste caminho para a santidade, somos convidados por Deus a ser membros de uma comunidade de fiéis que nos acolha como seus irmãos e a quem, segundo a nossa generosidade, devemos apresentar os nossos dons para o serviço de todos.
«Os cristãos, todos os dias, em todos os passos da sua vida, tentam ser fiéis ao Evangelho. Querem que o Reino de Deus se manifeste, cada dia, entre os homens, querem ser solidários e lutam por uma vida mais digna para todos, querem espalhar amor à sua volta, querem tornar realidade a fé que têm.»
No entanto, para que nos sintamos comunidade e para que sejamos solidários com essa mesma comunidade é necessário que nos conheçamos, que nos respeitemos e que no limite nos amemos como irmãos em Cristo.
Nas comunidades sofremos cada vez mais do problema de falta de comunhão. Nota-se nos pequenos e nos grandes pormenores. Mas principalmente nos pequenos, quando não somos capazes de nos sentarmos ao lado de um irmão que não conhecemos quando vamos a uma celebração. Sujeitamo-nos, porventura, a sentarmo-nos no fundo da Igreja ou até a ficar completamente desenquadrado com o espaço celebrativo, onde Cristo se oferece repetidamente em sacrificio por nosso amor, só para não nos "misturarmos" com quem não conhecemos. Então como podemos nós aceitar que nos chamem de irmãos, como o presidente tantas vezes exorta durante as orações, se não o aceitamos se não acreditamos que somos?
Se não somos realmente irmãos então de que Deus somos filhos? Se não conhecemos o nome, a família, a profissão, talvez até as dificuldades, de que quem se senta ao nosso lado numa celebração... então com que direito rezamos "Pai nosso..."?
«O cálice de benção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão.»
Olho para comunidades que não comungam do mesmo Cristo... que seguem diferentes Evangelhos... que pensam na Igreja como um monte de tijolos, quando confudem a casa do Senhor com as "pedras vivas do Templo do Senhor". Quando escondem a pobreza das suas almas por detrás da renovada beleza da casa do Senhor e os seus corações continuam tão velhos e acabados como os antigos pilares, agora renovados, do sagrado templo onde se reúnem "em Igreja" para fazer que O louvam.
Descobri que nas comunidades cristãs é possível celebrar um aniversário de matrimónio à porta fechada. Quando deparado com isto, pergunto-me, profundamente entristecido: são os outros mais ou menos dignos de comparticipar nessa celebração? É por vergonha ou por soberba que se comete um acto destes? Somos nós mais que Deus, Ele que não faz acepção de pessoas?
Descobri que nas comunidades cristãs não interessa a verdadeira reunião do povo de Deus e a cada vez maior massificação das assembleias. Interessa sim o espaço onde o fazemos. Então pobres daqueles santos que nos primeiros tempos da Igreja se reuniram em grutas ou em casas abandonadas ao contrário dos belos templos dos nossos dias... Vale a pena que por isto se contribua para a criação de uma comunidade de primeira e uma comunidade de segunda? Não serão os cristãos capazes de criar o espaço e o ambiente propício à celebração através de cuidados requintes de adorno quando o habitual espaço de culto não o permite? É claro que sim... não sejam hipócritas e deixai de usar a casa do Pai como estúdio fotográfico, como casa de ladrões que convidam os seus amigos para fazerem as suas festas esquecendo-se de convidar o dono da casa!
Seremos nós mesmo filhos do mesmo Deus? Às vezes não acredito...