Aproximam-se tempos de preparação para a comemoração de uma época muito especial na vida da Igreja e da sociedade em geral. Ainda que nem todos aqueles que (con)vivam connosco sejam Cristãos e vivam o Natal com a alegria de comemorar o aniversário da primeira vinda de Jesus até nós, não deixa de ser para todos um tempo de maior sensibilidade, de afecto, de (re)encontro com as famílias e amigos. Um tempo em que todos apelam um pouco mais à solidariedade para com os mais desfavorecidos, ainda porque coincide sempre com um tempo mais desconfortável e mais duro para quem não pode disfrutar do conforto de uma casa e de uma refeição quente.
É também tempo de renovação. No calendário cívil, quando se festeja a passagem de ano, formulam-se muitos desejos para o novo ano que se aproxima e a esperança de um ano abençoado torna-se um sentimento generalizado.
Também nós Cristãos podemos aproveitar esta caminhada de Advento para nos comprometermos com a nossa comunidade. Sendo que o início do Advento é também o início de um novo ano pastoral, de um novo ano litúrgico. Não fosse mais nada, já seria motivo para aproveitarmos para, e não esquecendo as coisas boas do passado, tentar escrever um mais próspero futuro nesta renovada oportunidade que nos é dada.
Há uma semana, Jesus abordou-nos, uma vez mais, com a parábola dos talentos.
Alegro-me em Cristo por conhecer pessoas que não se escondendo por detrás da vergonha nem do comodismo dão tanto de si, muitas vezes com tão poucos meios, e são o último reduto de uma comunidade e de uma assembleia que sem eles não poderia viver uma celebração com a mesma dignidade.
Tantas vezes nos deixamos dormir... dizemo-nos cansados e não olhamos para a valentia e a dedicação de outros que com nada disto se desculpam e com um sorriso sincero e voluntário entregam o seu enorme talento à Igreja. A eles o meu enorme agradecimento e inspiração.
Conhecemos também pessoas que, com muito menos talento do que julgam ter, só consideram válido emprestar um pouco de si às horas e onde mais lhes convém. Mal anda uma comunidade que tem irmãos que se servem dela em vez de a servir. Mal de nós quando Deus assim dispuser de nós e apenas nos acudir quando lhe convier.
Há comunidades que vivem no limite das suas possibilidades e é tal a sede por uma lufada de ar fresco que toda a motivação e proactividade que aparecessem seriam uma benção de Deus. Outras vivem na sombra de pessoas que no limite das suas capacidades tentam segurar pontas cada vez mais soltas e distantes.
Ao ver partir uma geração de eleitos que, acompanhados pela comunidade, são agora a esperança da Igreja, pergunto-me: como chegámos ao ponto de não haver como "abrigar" estes jovens que foram enviados por Cristo, na pessoa do seu bispo, a todo o mundo para proclamar a boa nova e dar testemunho da sua fé?
Eis que é chamada uma "equipa" a quem é dada uma oportunidade de provar que algo está mal, que é possível fazer melhor.
Eu chamar-lhes-ia, como Eça de Queirós n' "os Maias": os vencidos da vida. Pois não se trata de continuar algo mas sim de reescrever uma história. E foram "chamados" aqueles que já tinham perdido a esperança que isso fosse possível.
Julgo que estamos perante uma pergunta a que só o tempo será capaz de dar resposta: será o início de uma geração de ouro ou o fim de uma era?
Tempos houve em que as nossas catequeses alimentavam os vários sectores da comunidade. Uns cantavam, outros liam, alguns mais corajosos perdiam a vergonham e vestiam uma túnica para o importantíssimo serviço do altar, alguns ainda mais valentes e destemidos aceitavam a responsabilidade de guiar os caminhos de outros que lhes sucederão um dia, ou que pelo menos se juntarão a eles, aceitando o chamamento de Cristo para serem catequistas.
Hoje conheço alguns que dizem que, recebendo a Confirmação, não voltam a "meter lá os pés" porque "aquilo não lhes diz nada". Arrisco a dizer por outros que nem crentes são. Mas isto não seria um mal tão grande se fosse produto de uma fase do caminho em que a provação é grande e em que devem ser postos à prova os limites da nossa fé. Mas sei por muitos que não é de hoje nem de ontem esse sentimento.
E entao questiono-me porque não se reflecte sobre o que estamos a fazer com os nossos jovens. Sobre para onde os estamos a deixar caminhar e pior ainda a quem estamos levianamente a dar a Confirmação de que são verdadeiros Cristãos e fiéis servidores de Jesus Cristo!
Provavelmente somos nós os grandes culpados quando não entendemos porque acham a Eucaristia "uma seca" ou porque dizem que a catequese não lhes traz nada de novo.
Será que a Eucaristia é "uma seca" porque os cânticos não são acompanhados à guitarra e não dão para bater palmas? Será que a catequese é uma seca porque não é dada por gente mais nova e com actividades "mais fixes" e que envolvam saídas?
Penso que não! Acredito que não, porque é o que tem sido feito e afinal onde estão eles?
Será que vale mesmo a pena não se ouvir uma das leituras da palavra de Deus na Eucaristia e substituí-la pela palavra dos homens em orações/meditações apelando ao sentimentalismo e a lamechices que fazem de nós Cristãos, não um povo alegre e feliz mas, uma cambada de coitadinhos? Terá o servo mais TALENTO que o seu Senhor?
Não é nem pelos cânticos, nem pelos acólitos, nem pelos padres que vamos à Igreja, mas porque Deus nos chama! Porque temos sede, sede de Deus que a todos sacia com o seu amor, com a sua palavra e com o seu próprio corpo entregue por nós, consagrado pão que nos é dado em cada eucaristia em que participamos.
Acredito que é tempo de levantar os estandartes, de limpar as armas e selar os melhores cavalos. É tempo de dar luta à erosão que o tempo provoca na nossa comunidade e de travar uma escalada de deserção e de falta de (pro)actividade e formação nos nossos grupos. A maior arma é o amor e a melhor defesa é o peito aberto, porque se o Senhor verteu todo o seu sangue por nós... que não tenha feito em vão. Jorremos nós fé e disponibilidade e sejamos exemplo de que Deus não nos quer tristes, cansados e abatidos, mas alegres, felizes e fortes para ajudar a levantar aqueles que sem Ele são oprimidos pelas dificuldades de uma vida sem fé e sem esperança.